Diário de Notícias Consumo. Nos últimos cinco anos as famílias têm consumido menos água, mas mesmo assim perdem-se, anualmente, 165 milhões de metros cúbicos de água em fugas por mau uso ou ruturas nas condutas. Durante esta semana, o DN vai publicar trabalhos sobre o momento de seca que afeta o país. Com investigação, reportagens e entrevistas O volume de água faturada em Portugal tem vindo a diminuir nos últimos cinco anos, mas continuam a perder-se grandes quantidades de água antes de chegar às torneiras dos portugueses. Em 2016, foram faturados cerca de 576 milhões de metros cúbicos para uso doméstico e não doméstico, menos aproximadamente 30 milhões do que em 2011, ano em que foram cobrados 606,8 milhões (últimos dados disponíveis) . No entanto, entre a água que é distribuída gratuitamente e aquela que se perde em ruturas na rede de abastecimento, ainda há 240 milhões de metros cúbicos que anualmente não são faturados.Os dados foram cedidos ao DN pela Entidade Reguladora dos Serviços de Águas e Resíduos. Orlando Borges, presidente da ERSAR, diz que “na sequência da seca de 2005, houve uma redução de consumos, que se traduziu numa utilização mais eficiente da água”. Contudo, frisa, se por um lado “os portugueses estão mais conscientes”, por outro, “as entidades gestoras não têm estado tão à altura de reduzir as perdas em termos médios nacionais”.Em 2016, a percentagem de perdas reais (por fugas ou mau funcionamento da rede) era de 27,3%, quando em 2012 era de 25,8%. Uma diferença que, de acordo com o responsável, não é significativa. “O valor de perdas é um valor médio. Há empresas com perdas de 14% – o que é muito bom – e outras com 80%. Todos os anos, há 240 milhões de metros cúbicos de água que não entram na faturação, porque há perdas físicas ou porque não são cobrados.” Estas últimas perdas dizem respeito ao consumo das próprias entidades gestoras, da água usada para rega ou fornecida a escolas e outras entidades, por exemplo.Em Portugal, existem cerca de cem mil quilómetros de condutas, onde se perdem 165 milhões de metros cúbicos de água por ano. Para reduzir esses danos, Orlando Borges considera que deveria existir uma “reabilitação das condutas”. “Vejo a seca como uma oportunidade de repensar se o país se pode dar ao luxo de perder tanta água corri um custo acrescido, porque é água tratada”, sugere. “Nos sistemas em alta- como a Águas de Portugal e os intermunicipais-, mais estruturados e com condutas reabilitadas, o valor é muito baixo, tecnicamente aceitável.”Na opinião de Rute Rodrigues, técnica da ERSAR, não só os portugueses estão “mais sensíveis” como foram obrigados a repensar hábitos quando se viram confrontados com um período de crise económica. “A crise se calhar também fez que as pessoas passassem a ter algum cuidados com os consumos.” Além disso, há ainda um outro dado que pode ajudar a explicar a diferença de 30 milhões no consumo entre 2011 e 2016. No primeiro ano, os números dizem respeito a 247 entidades gestoras de abastecimento de água num universo de 261. Já no segundo, responderam à ERSAR 234 entidades em 256. “O universo de respostas foi menor, porque também passou a ser exigido um maior rigor na entrega dos dados”, justifica.Consciência a aumentarJoão Branco, presidente da associação ambientalista Quercus, considera que os portugueses começam agora a estar mais sensibilizados para a necessidade de poupar água. “Porque agora gira tudo à volta da seca. É uma seca histórica, mas já é tarde. Se as pessoas poupassem durante o verão, se calhar isto não acontecia”, lamenta. Segundo o representante, “a água tomou-se uma comodidade presente nas nossas torneiras, o que faz que as pessoas não lhe dêem valor”. Ainda que estejam a começar a perceber que há seca, “continuam a ter água nas torneiras”. Uma criança que não ouça “sistematicamente” que é preciso poupar água “não sabe que é preciso fazê-lo”, pelo que considera essencial que existam “campanhas permanentes”. “Agora há, mas é uma reação à situação. Não é uma medida preventiva”, destaca.Há pequenos gestos, refere, que podem fazer a diferença, nomeadamente o uso de redutores de caudais nas torneiras, os duches rápidos ou o uso de baldes e não de mangueiras para lavar os carros. João Branco lembra, ainda, que as autarquias são grandes cons