OBSERVADOR Será preciso um ano com chuva acima da média para repor águas subterrâneas, diz secretário de Estado do Ambiente. Carlos Martins avisa que cada dia que passa, a seca piora, mas afasta racionamento. A situação de seca é grave, complicada, palavras usadas pelo secretário de Estado do Ambiente. Carlos Martins lembra aqueles que falaram em alarmismo quando lançou, no início de outubro, o alerta para o risco no abastecimento público de água na zona de Viseu. “Infelizmente, os nossos piores cenários climáticos vieram a confirmar-se”, diz em entrevista ao Observador. Abastecer aquela região, onde vivem cerca de 100 mil pessoas, vai exigir 40 camiões cisterna por dia, e quando os recursos próximos se esgotaram, a água terá de vir de Castelo de Bode, de comboio a partir do Entroncamento. O governante garante que, neste momento, não está em risco o abastecimento público, ainda que estejamos a viver uma situação de exceção. Mas reconhece que, a cada dia que passa, temos um agravamento da situação e avisa que as autoridades podem “fazer pouco para além de lidar e gerir melhor o recurso que ainda temos à nossa disposição”. Neste momento, “temos barragens, mas não temos água”. Ainda assim, realça que sem as barragens construídos nos últimos anos, a situação seria muito pior. Carlos Martins afasta um cenário de racionamento imposto, porque argumenta que não tem sido eficaz em situações similares. Prefere um “racionamento por vontade própria”. E se começar a chover? Vai demorar três/quatro meses de chuva normal para colocar as reservas a um nível de tranquilidade, mas para repor as águas subterrâneas será preciso um ano e chuva acima da média. Ainda não é possível contar os prejuízos, mas a agricultura deve ser o setor mais penalizado. O ministro do Ambiente disse no Parlamento que esta era a nona pior seca dos últimos 100 anos. Quais são as outras grandes secas? 2005 foi um ano com muito paralelismo com este. Esta seca talvez seja mais grave, mas felizmente hoje estamos mais capacitados para lidar com o problema. De resto, só conseguimos encontrar situações comparáveis anteriores aos anos 30 do século passado. Este ano está-se a tornar pior do que 2005 porque nesse ano choveu em outubro e este ano, infelizmente, tivemos um setembro completamente seco, um outubro seco e estamos a ter um novembro que já vai quase a meio também sem precipitação significativa. Essa é a situação que torna esta seca bastante mais gravosa, do ponto de vista daquilo que são os recursos disponíveis. Felizmente, foi entretanto construído um conjunto de barragens significativas. Só em Trás-os-Montes, foram feitas nove barragens para o abastecimento público de água. Temos Odelouca que permitiu ultrapassar o problema no Algarve sem qualquer constrangimento. Temos o Alqueva que tem estado a ser a grande fonte para ultrapassar a escassez em vastas regiões do Alentejo. “O problema que agora se coloca para os agricultores é o de saber se vale a pena ou não fazer as novas sementeiras, sobretudo em produtos de regadio, porque podem ter perdas muito grandes.(…)Depende do tipo de produtos, mas diria que durante este mês muitos terão de fazer essasopções”. Quantas albufeiras é que o Alqueva está a abastecer? Há albufeiras que são apenas de uso agrícola e outras que são de usos múltiplos. Acompanhamos sobretudo estas e são cerca de seis. Duas tiveram situações muito críticas Monte da Rocha e Vígia que conseguimos controlar, nomeadamente ao nível da utilização pelos regantes (produtores agrícolas que usam regadio). Conseguimos assegurar a rega das produções até ao final da época. Do ponto de vista agrícola, as sementeiras de produtos de regadio já foram feitas. Já houve a apanha de vinha e oliveira. O problema que agora se coloca para os agricultores é o de saber se vale a pena ou não fazer as novas sementeiras, sobretudo em produtos de regadio, porque podem ter perdas muito grandes. Qual é a janela temporal para decidirem ? Depende do tipo de produtos, mas diria que durante este mês muitos terão de fazer essas opções. Já praticamente não há produção de electricidade nas barragens que também servem para consumo humano e agrícola A monitorização da situação de sec