Diário de Notícias Fábrica de Água de Alcântara serve 2,4 milhões de pessoas. Há objetos insólitos que dão à costa, mas o importante para quem lá trabalha é transformar e reutilizar a matéria-prima São 142 milhões de litros de água por dia, 1620 litros por segundo. Estes dados correspondem à quantidade tratada pela Fábrica de Água de Alcântara, a maior e a mais moderna infraestrutura de tratamento de águas residuais em Portugal. Faz parte da Águas do Tejo Atiânti- co, formada em abril deste ano.Ao abranger 4145 km2, entre a Grande Lisboa e a zona Oeste, e servir cerca de 2,4 milhões de pessoas, não será surpreendente que os vários “inimigos” para lá despejados se transformem por vezes em verdadeiros “monstros”. O insólito, inclusivamente, também faz parte do dia-a-dia dos operacionais da fábrica, aqueles que lidam mais diretamente com “aquilo que mais ninguém quer fazer”, como referiu Marcos Batista, de 51 anos, diretor de Desenvolvimento e Comunicação da Águas do Tejo Atíântico. Mas o que é que atrapalha mais as pessoas e as infraestruturas que tratam as águas residuais e que objetos insólitos vão parar às estações de tratamento? Bem, um pouco de tudo.Óleos, toalhitas, cotonetes, preservativos… dinheiro, jóias, eletrodomésticos, cabos elétricos, antenas de televisão, peluches, tapetes gigantes e até um para-choques. Tudo isto já foi “dar a costa” em Alcântara.”Eu estava a fazer uma visita com um grupo de israelitas – esta ETAR é muito visitada – e deparei com dois peluches onde já só passam coisas de três milímetros”, relata Marcos Batista.Mas não fica por aqui. “Bocados de eletrodomésticos, jóias, relógios, etc.” são coisas que podem ser consideradas dentro da “normalidade” do funcionamento da estrutura. Até um para-choques ou mesmo um “tapete com 12m2″, contou Pedro Álvaro, diretor de operação e responsável por 104 estações de Tratamento de Águas Residuais (ETAR).”Uma vez até tivemos aqui um livrete de um carro roubado. Depois contactamos o dono da viamra, que até estava a ter bastantes chatices com a situação, e ele lá resolveu”, disse.Ao contrário do que possa parecer, e tendo em conta a enumeração de alguns dos objetos já referidos, o que mais atrapalha a vida das ETAR) são as coisas que podem parecer mais corriqueiras, como “as toalhitas e os óleos”.Marcos Batista fala da necessidade de uma maior consciencialização e educação da população relativamente ao tratamento dos resíduos e da atitude perante a água. “Os objetos mais recorrentes são os que causam os ‘monstros’, e esse é ainda um comportamento que gostaríamos de fazer evoluir”, acrescentou.Sobram as “coisas insólitas, que até fazem rir quem aqui trabalha, porque já aconteceu a toda a gente, por exemplo, mandar o relógio pela sanita abaixo”.E sim, também há dinheiro que se perde pelos esgotos. Neste caso, talvez perder não seja a expressão correta, porque “muitas vezes os trabalhadores mandam bocas uns aos outros”, diz Pedro Álvaro, no que respeita a valores perdidos, visto que “alguém”, por vezes, fica com o dinheiro.Marcos Batista explicou também que na Fábrica de Água de Alcântara não existe apenas a vertente de tratamento de águas, mas também um importante foco na “valorização” destas, ao transformar, tratar e reciclar a água, como as lamas que sobram dos tratamentos e acabam por ser importantes, por exemplo, para a agricultura.No entanto, uma ETAR não e é só um ponto de chegada e de partida de lixo e matéria-prima. Marcos Batista adiantou que é possível determinar, até um certo ponto, padrões e comportamentos sociais a partir do que chega aos esgotos. É esta determinação vai desde o que as pessoas comem ao consumo de drogas, havendo várias parcerias com investigadores e estudantes neste tipo de análises.”Nós também somos uma base de dados muito interessante em termos sociais. Nós conseguimos ver na nossa matéria-prima, por isso evoluímos para o conceito de fábrica, dados sobre a sociedade em que estamos”, frisou.No fundo, além de receber matéria-prima, tratá-la e devolvê-la em “equilíbrio” com o ambiente, um espaço como a Fábrica de Água de Alcântara pode ir do mai