Água & Ambiente na Hora A falta de água em algumas zonas do Alentejo e Algarve está a prejudicar a monitorização das massas de água já que fica impossibilitada a recolha de amostras para análise. O alerta foi deixado pelos responsáveis das Administrações de Região Hidrográfica (ARH) que participaram na 11ª Expo Conferência da Água, organizada pelo Grupo About Media, que decorreu a 9 e 10 de novembro, em Lisboa. Entre 2014 e 2016 a região do Alentejo recolheu amostras em 332 massas de água, o que apenas corresponde a 67 por cento do total. No que diz respeito aos barrancos, pequenas linhas de água, a ARH está desde março a tentar obter amostras em grande parte sem sucesso. “Há linhas de água que de água só têm o nome. Água realmente não têm”, revelou o diretor regional da ARH do Alentejo, André Matoso. Na campanha de março só foi possível recolher amostras em 61 por cento desses barrancos. Dos 81 pontos a analisar, 31 não tinham caudal suficiente. Esta situação já obrigou a ARH a reagendar a campanha de outono.?A região, que está sujeita a poluição difusa em 80 por cento das massas de água, entre outras pressões, possui apenas 40 por cento das massas de água em bom estado. “O que propomos é que se encontre um modelo alternativo com outros indicadores para que não sejamos penalizados. Este é um problema de outros países do sul da Europa e por isso tem que haver um lobby. Não é fugir às obrigações, mas alertar para especificidades”, defende ao Água&Ambiente na Hora. Para André Matoso esta realidade mediterrânica deveria ser tida em conta no âmbito da Diretiva Quadro da Água, que está em revisão, já que “muitos cursos de água só têm água durante ou imediatamente após os períodos de precipitação”. Os países do norte da Europa, onde há gelo grande parte do ano, o que impossibilita a recolha de amostras, acabam por ser penalizados de forma similar já que o estado dessas massas de água é igualmente classificado como desconhecido. A opinião é partilhada por Paula Noronha, da ARH do Algarve, onde as massas em bom estado atingem os 70 por cento. “O regime das ribeiras é peculiar. Das 22 massas de água que temos em estado inferior a bom 10 estão assim classificadas porque não conseguimos fazer monitorização. Ou não há água ou se há essa água não consegue sustentar o ecossistema”, explica. 555 MIL PARA MONITORIZAR O QUE FALTA No centro e norte do país, onde existe outro regime hidrológico, a questão não se coloca. No norte as massas de água com estado superior a bom atingem os 64 por cento. No centro, onde essa percentagem atinge os 67 por cento, apenas 35 por cento das massas de água são monitorizadas. A diretora regional da ARH do Centro, Celina Carvalho, lembra que a Agência Portuguesa do Ambiente (APA) já lançou o concurso público, para adjudicação da monitorização das massas que nunca foram avaliadas, no valor de 555 mil euros. Gabriela Moniz, diretora da ARH do Tejo e Oeste, onde só 47 por cento das massas de água estão em bom estado, acredita que esta aposta da APA irá dar resposta às dificuldades da ARH em termos de monitorização. ?