Ambiente Online Documento está em processo de aprovação Os estudos realizados para a elaboração do plano estratégico de gestão de lamas de ETAR (Estações de Tratamento de Águas Residuais) do grupo Águas de Portugal (AdP), que está em fase de aprovação, apontam para a necessidade de diversificar as opções de valorização deste resíduo. O objectivo é apostar na valorização material como destino final para as lamas não ficando apenas pela compostagem e valorização agrícola, que representaram em Portugal, em 2013, 51 por cento e 45 por cento, respectivamente, no universo do grupo. Apenas quatro por cento das lamas foram encaminhadas para aterro. ” Uma opção potencial é o encaminhamento para valorização energética, sobretudo tirando partido da capacidade instalada nas cimenteiras, sempre que os custos de transporte e custo final de gestão se revelem competitivos, mas tal só é possível com criação de unidades de secagem solar”, revela ao Ambiente Online o gestor daUnidadede Negócios da Água Produção e Depuração do grupo Águas de Portugal, Carlos Martins, que coordenou o plano. O grupo tem uma base de dados georreferenciada que permite calcular onde estão as unidades mais próximas das ETAR, encontrando assim as opções mais eficientes tendo em conta a oferta e procura. O único condicionalismo é a ausência de unidades de secagem solar de forma a reduzir os níveis de água do produto já que as cimenteiras procuram lamas “secas”, uma necessidade que o plano também assinala. Carlos Martins calcula que, em termos de secagem solar, seja possível atingir valores nacionais na ordem das 60 mil toneladas por ano com um reforço das linhas de desidratação e armazenagem. O investimento global previsto, aproveitando também os fundos comunitários disponíveis, andará entre os 10 e os 12,5 milhões de euros, “dependendo da localização das unidades e da complexidade do sistema de tratamento de odores a adotar em cada caso”. PORTUGAL PRECISA ALINHAR-SE COM A EUROPA A necessidade de aumentar e flexibilizar as opções de valorização prende-se sobretudo com a urgência em alinhar os destinos de valorização de lamas com os países do sul da Europa e mesmo com o Reino Unido, que aplica por 65 por cento das lamas na agricultura e 20 por cento na compostagem, de forma a que Portugal possa vir a cumprir as regras que venham a ser estabelecidas neste domínio. Na Europa a média de valorização agrícola das lamas de ETAR ronda os 30 por cento. Carlos Martins alerta no entanto para o risco de tratar todos os países da Europa como iguais. “Há países do norte que passam quase meio ano debaixo de neve. Têm dificuldade em colocar a lama na agricultura. Há solos na Holanda, por exemplo, em que o nível freático está a um metro de profundidade. É perigoso pensar que a União Europeia deve ser tratada de forma homogénea”, realça. O responsável explica que há uma fatia grande que segue para compostagem sobretudo por razões económicas. “Ou não cumprem os critérios microbiológicos ou porque os custos das análises nas ETAR de pequena dimensão são de tal maneira exorbitantes que vale mais pagar um pouco mais para ir para compostagem do que encaminhar para agricultura”, revela. Carlos Martins defende por isso que em ETAR de pequena dimensão poderiam realizar-se campanhas de características das lamas de quatro ou de cinco em cinco anos. Além da diversificação de destinos, eventualmente em parceria com operadores licenciados, o plano do grupo AdP prevê ainda a optimização de processos de forma a promover a eficiência; o aumento a capacidade de armazenamento e tratamento, factor crítico para gestão das lamas e redução de custos; a produção de composto e o controlo da produção, qualidade e custos das operações de gestão das lamas de ETAR. A MUDANÇA QUE SE OPEROU NO SECTOR Na semana passada, no debate sobre a estratégia nacional para o sector das lamas em Portugal, organizado pelaAssociação Portuguesa de Distribuição e Drenagem de Águas (APDA), no Auditório da Ordem dos Engenheiros, em Lisboa, Carlos Martins lembrou que este resíduo sofreu uma alteração significativa no tempo. “Há 37 anos, quando aterrei na velha ETAR de Frielas, onde comecei a minha actividade profissional, vendíamos lamas aos agricultores da várze