EXPRESSO Os EUA e a China assumiram claramente na Cimeira do Clima, realizada esta semana na sede da ONU em Nova Iorque, a liderança do processo de negociações que deverá conduzir à assinatura de um novo tratado que suceda ao Protocolo de Quioto, na conferência das Nações Unidas marcada para dezembro de 2015, em Paris. As duas maiores economias dos mundo, que são responsáveis por 44% das emissões globais de dióxido carbono (CO2), deram um novo impulso a um processo que tem marcado passo desde o falhanço da Cimeira de Copenhaga, em 2009. Uma das novidades foi a posição da China, que pela primeira vez afirmou a sua vontade de tomar medidas para cortar as emissões de CO2, embora isso não tenha acontecido pela voz do seu Presidente, Xi Jinping, mas do vice-presidente Zhang Gaoli. “Como um grande país responsável e em desenvolvimento, a China fará ainda maiores esforços para combater as alterações climáticas”, afirmou Zhang Gaoli, em Nova Iorque. Mas o vice-presidente acabou também por repetir promessas anteriores, como a redução da intensidade carbónica do país (emissões de CO2 por unidade produzida) em 45% até 2020. A China foi responsável por 29% das emissões globais em 2013, os EUA por 15% e a União Europeia por 10%. O país mais populoso do mundo já ultrapassou mesmo o nível das emissões per capita da UE. Obama quer novo tratado flexível O Presidente dos EUA, Barack Obama, também repetiu a promessa de cortar as emissões em 17% até 2020, relativamente aos valores de 2005, e defendeu um novo tratado climático global que seja flexível. Mas reconheceu no seu discurso na sede da ONU que as alterações climáticas estão a acontecer mais depressa do que os esforços para as enfrentar e, por isso, os EUA e a China “têm a responsabilidade de liderar as outras nações” neste processo. “Temos de acabar com as velhas divisões”, insistiu Obama, que reconheceu que nenhum país pode ficar de lado no futuro tratado. A nível interno, o Presidente dos EUA tem tentado contornar o Congresso, que nunca ratificou o Protocolo de Quioto, para conseguir assinar em dezembro de 2015 em Paris um novo tratado climático com metas legalmente vinculativas para todos os países do mundo. Obama já lançou através da Agência de Proteção Ambiental (EPA), que está diretamente sob a sua jurisdição, um programa federal que inclui pela primeira vez limites para as emissões de carbono das centrais térmicas. No Protocolo de Quioto, os países desenvolvidos tinham de reduzir as suas emissões em 5% em média até 2012, relativamente aos níveis de 1990. Como afirmou ao Expresso o ministro do Ambiente, Ordenamento do Território e Energia, Jorge Moreira da Silva (ver entrevista), que representou Portugal em Nova Iorque, “estamos todos muito marcados pelo que aconteceu em Copenhaga em dezembro de 2009, onde não foi possível chegar a um acordo global”. Ao convocar a cimeira de mais alto nível desde Copenhaga na sede da ONU, o secretário-geral da organização, Ban Ki-moon, “quis evitar que os países acordem na véspera da Conferência de Paris em 2015 sem terem feito o trabalho de casa, alertando os líderes políticos a um ano de distância”, esclarece Moreira da Silva. A verdade é que a Cimeira do Clima em Nova Iorque “foi a mais participada de sempre das Nações Unidas para tratar de um tema específico”, tendo estado presentes chefes de Estado e de governo e representantes de mais de 120 países. Faltam compromissos ambiciosos E apesar da falta de novos compromissos com metas e datas bem definidas, as organizações ambientalistas fazem um balanço favorável da cimeira. “Esta foi uma cimeira positiva, mas limitada pela falta de compromissos concretos mais vastos”, afirma a Quercus, em comunicado. “Agora é preciso que os líderes políticos traduzam a retórica positiva na redução das emissões e no financiamento da ação climática, particularmente nas nações mais vulneráveis do mundo”. Em termos práticos, vários Estados comprometeram-se a reforçar o Fundo Verde Climático criado em 2010 para financiar projetos de mitigação e adaptação às alterações climáticas nos países em desenvolvimento. Foi o caso da França (contribuirá com 780 milhões de euros), Suíça e Coreia do Sul (78 milhões de euros cada) e Dinamarca (55 milhões de euros). E vários países prometeram acelerar a transição dos combustíveis fós