Ambiente Online ‘Sem contratos, as empresas não têm dimensão para competir no estrangeiro’, explica o responsável. 02.04.2014 Por Diogo Faria de Oliveira, AEPSA Na semana passada, eu e o Eng. Francisco Machado (SISAQUA) estávamos a passar uma vista de olhos no relatório da ERSAR – o RAPSARP 2012 – e comentámos o impressionante esforço de investimento que se fez entre 1996 e 2010. Foram mais de 8 mil milhões de euros investidos em 97 ETAs, 8 350 km de adutoras, 1 272 reservatórios, 881 ETARs, 4 434 km de emissários, entre outras infraestruturas em alta, bem como um conjunto significativo de infraestruturas em baixa. Mas no caso do pessoal afeto às infraestruturas em alta, o número de colaboradores internos é de 2 500 enquanto que em outsoursing é de 730 trabalhadores. É curioso e intrigante a reduzida dimensão do mercado de outsourcing de Operação e Manutenção (O&M) no sector da água e saneamento em Portugal. De facto, face à atual dimensão dos ativos, não se compreendem as razões pelas quais algumas empresas do grupo Águas de Portugal, e ao contrário do que é feito noutros sectores, continuam a não optar pelo outsourcing dos serviços de O&M como forma de aumento de produtividade e incentivo à rivalidade (no sentido positivo e saudável para todos!) entre equipas internas e equipas externas. De facto, a colocação em regime de outsourcing de uma parte daquelas infraestruturas iria simular um ambiente concorrencial, incentivando a melhoria contínua e teria como “efeito secundário” o aumento da capacidade produtiva nacional e de estímulo ao crescimento das PME. Por outro lado, a partilha do mercado de O&M pelas empresas privadas permitiria constituir uma forte base de negócios em território nacional, que lhes poderia servir de alavanca à sua internacionalização. Noutros países da Europa, tais como Espanha, Holanda, França ou Reino Unido, é essa a força que as empresas multinacionais do sector têm para poder crescer e desenvolver-se no mercado exterior. Ou seja, é fundamental para o crescimento das empresas privadas Portuguesas (e, portanto, para o crescimento económico do País) que haja um mercado forte, concorrencial e saudável em Portugal. O enorme investimento realizado nos últimos anos criou, nas empresas, um valioso portefólio de Conhecimento, o qual é uma verdadeira proposta de valor das empresas Portuguesas. Sem um mercado nacional que permita dar às pessoas uma perspetiva de carreira, a inevitável “fuga de cérebros” para mercados com melhores condições de remuneração e empregabilidade empobrece o país. E sem contratos em Portugal, as empresas não têm dimensão, nem currículo, nem robustez, para competir no estrangeiro. Provocação do mês: Em grande parte, está nas mãos das empresas do grupo Águas de Portugal ajudar a manter e desenvolver o valioso ativo que é o nosso Conhecimento, abrindo o mercado aos operadores privados. Será que é em 2014 que o número de colaboradores em regime de outsource ultrapassa os 1000? Não falta muito… Diogo Faria de Oliveira é licenciado em Engenharia Civil com especialização em Hidráulica, Recursos Hídricos e Ambientais. É Administrador Executivo da Aquapor (desde 2001), Presidente da Associação das Empresas Portuguesas para o Sector do Ambiente, Conselheiro da ERSAR e membro do Conselho Nacional da Água. Escreve segundo o novo acordo ortográfico