Ambiente Magazine 05-10-2014 “Ha muito tempo que não se via a agenda política ser marcada pelo ambiente – Entrevista a Diogo Faria de Oliveira Foi em 1994 que surgiu a Associação de Empresas Portuguesas do Sector da Água (AEPSA). Anos depois, trocou a “Água” pelo “Ambiente” e formou a AEPSA como a conhecemos. A Associação comemorou este ano os seus 20 anos de existência, num ano que se revelou decisivo, com a apresentação de reestruturações para o sector da água e dos resíduos e com a apresentação do Compromisso para o Crescimento Verde, documentos que vão ditar a mudança dos próximos anos no sector do ambiente. Motivos mais do que suficientes para, no último mês do ano, falarmos com Diogo Faria de Oliveira, Presidente da AEPSA, para abordarmos os 20 anos de mudança, ainda que não milagrosos, de desafios actuais e de alterações inerentes à actividade, num futuro que, segundo acredita, terá uma agenda política a nível mundial marcada pelo Ambiente. São 20 anos da AEPSA e 20 anos de grandes mudanças no sector, tanto da água e saneamento, como dos resíduos. Qual a correlação entre estas duas variáveis? A AEPSA nasceu com a abertura do sector aos privados, em 1994, para dotar o país de um centro crítico relativamente àquilo que eram as opções para o sector do ambiente e os interesses das empresas privadas para o sector da água. Mais tarde mudou de nome com a entrada de um conjunto de operadores de aterros industriais e de operadores de resíduos sólidos urbanos. Os desafios da altura eram muito diferentes, inicialmente as preocupações estavam muito viradas para a entrada das multinacionais em Portugal, e a atenção da AEPSA virou-se para uma discussão, entre o público e o privado, num clima de crescimento e posicionamento territorial. Hoje os desafios são outros, integrámos a ANAREPRE, com toda a cadeia de valor da reciclagem, e há aqui hoje uma representatividade muito grande com 60 associados, um volume de negócios de 1,5 mil milhões de euros e com um conjunto de empresas que representa 13 mil postos de trabalho. A AEPSA é uma associação de empresas que, entre si são concorrentes, mas que têm dois grandes objectivos comuns, o cumprimento da legislação e das regras e a actualização relativamente àquilo que é a evolução mundial, fundamental ao crescimento das empresas. Podem parecer interesses antagónicos, mas não são, quanto mais regulado for o sector do ambiente, mais as empresas se tornam sofisticadas e, com a sofisticação, vem também uma maior quantidade de negócio. As empresas que têm maior capacidade de adaptação são aquelas que conseguem tirar maior partido das alterações e, portanto, antecipar estas alterações é um dos desígnios da AEPSA e dos seus associados . Nos últimos anos, a AEPSA chegou a manifestar-se contra uma eventual privatização do sector das águas. Como é que a associação vê então esta reforma para a recuperação de custos a longo prazo, mas que começará a ter repercussões já a partir do próximo ano? Sobre a privatização eu diria que há um não-assunto com uma agenda política. É consensual que ninguém quer a privatização em Portugal. 0 Governo já disse que não queria, os municípios já disseram que não querem e o sector privado já disse que não quer. E há boas razões para isto. A privatização não resolve os problemas estruturais e os desequilíbrios que o sector atravessa. Existe uma agenda política que sistematicamente recupera a palavra “privatização”, diabolizando-a de forma a pôr em causa aquilo que possam ser intenções de parceria com empresas privadas, sendo que a parceria não é uma privatização, é uma pura prestação de serviços, pode ir até tão longe quanto uma concessão, mas não passará daí. Portanto, também nós nas empresas privadas não concordamos com a privatização porque ela não resolveria o problema de um eventual encaixe financeiro para o Estado, porque as dívidas da empresa a privatizar, neste caso a Águas de Portugal, não permitem que tal aconteça, não resolveria o problema da empresa porque este prende-se com dois aspectos diferentes, um de natureza económica, outro de natureza financeira, nem resolveria o problema do privado e